Ele produziu e filmou os vídeos das versões em português e inglês do sucesso Ai Se Eu Te Pego e vai acompanhar e registrar turnê internacional do cantor
Junior Jacques é filho de Moracy Jacques, importante pioneiro na área de fotografia e vídeo em Maringá. Ao acompanhar o trabalho do pai, ele logo criou gosto pela área. Antes dos 15 anos, ele sabia editar e já participava de alguns trabalhos de filmagem. Por conta da rotina dinâmica que tomou conta de sua vida desde então, não conseguiu concluir nenhuma das três tentativas de cursar a graduação de comunicação.
A produtora da família, Jacques Cine e Vídeo, fez clipes e a filmagem de shows lançados em DVDs dos principais nomes sertanejos do País, como Luan Santana, João Bosco e Vinícius e Hugo Pena e Gabriel .
Dois dos maiores sucessos da trajetória da empresa são justamente os clipes das versões em português e inglês do hit Ai Se Eu Te Pego, do paranaense Michel Teló, que ganharam o Brasil e o mundo. O próximo passo de Jacques, que produziu e dirigiu os vídeos, é acompanhar o cantor em sua primeira turnê internacional. Uma curiosidade: o maringaense é chamado de tio pela estrela atual do sertanejo.
Jacques recebeu a reportagem da Gazeta Maringá na última quinta-feira (19). Além de contar sobre bastidores das produções de Michel Teló, ele falou sobre a relação que tem com o artista, que comemora aniversário neste sábado (21). O sucesso de Teló tem Maringá em suas páginas. Confira a entrevista.
GAZETA MARINGÁ: Como você conheceu o Michel Teló?
JUNIOR JACQUES: Quando comecei a trabalhar com clipes, sempre quis fazer os do grupo Tradição, no qual o Michel tocava. Por duas oportunidades, quase fiz os DVDs do Tradição. O engraçado é que quando o pessoal [do Tradição] procurava a gente, já tínhamos compromissos [na Jacques]. Em 2011, fui trabalhar com a dupla Bruninho e Davi, na música Vamo Mexe, em Campo Grande [MS]. E foi aí que comecei a ter um relacionamento direto com o Michel e com os irmãos dele Teófilo, que é o seu manager, e Teotônio, mais novo, responsável pela logística e agenda.
Qual foi sua participação no DVD Michel na Balada?
Fui o diretor. Gravamos em cinco cidades. Foi uma miniturnê pelas baladas Woods Curitiba; Woods Balneário Camboriú; Woods São Paulo; Santafé Hall, em Goiânia [GO]; e Cinema D em Ribeirão Preto [SP]. [Para o DVD] Fui para São Paulo construir o projeto com ele [Teló], com o fotógrafo Fernando Hiro e Teófilo. Fizemos reuniões para consolidar repertório. Fizemos a viagem [da miniturnê] de 24 de setembro a 5 de outubro. Havia dois ônibus. Depois, fiz a edição pessoalmente. Durante a edição do DVD, trocava informações com o Michel pela internet. Fomos melhorando o vídeo. Ele veio para Maringá ver a edição.
Como surgiu a ideia para gravar o clipe da versão em inglês de Ai Se Eu Te Pego, Oh, If I Catch You?
Na época da produção do DVD [Michel na Balada], os meninos da Woods [proprietários] sugeriram gravar um clipe [de uma música não definida até aquele momento] na praia Cachadaço, em Porto Belo, Santa Catarina. Lá tem um restaurante flutuante e só dá acesso pelo mar de barco ou iate. Surgiu a idéia de fazer uma festa e gravar um show do Michel nessa praia, mas não sabíamos o que [música] ia ser gravado. Mesmo assim reservamos a data de 28 de dezembro. Foi então que teve o boom do Ai Se Eu Te Pego no estrangeiro e a família Teló teve a ideia de fazer a versão em inglês. Quem fez a versão foi a Sharon [Acioly] , uma das compositoras da versão brasileira. Ela é americana e mora há muitos anos na Bahia. Nos bastidores, havia algum atrito sobre como seria essa tradução, se seria literal ou algo novo. Um detalhe legal sobre o arranjo: os irmãos pesquisaram o que os gringos ouvem e fizeram uma versão diferente da brasileira. No primeiro arranjo, não tinha sanfona, para agradar os americanos. O clipe foi produzido com essa versão sem sanfona. Aí, aos 45 minutos do segundo tempo, véspera da exibição no Fantástico, o pessoal ligou para mim e pediu para trocar o áudio do vídeo. Aí alteramos, voltando para um arranjo mais parecido com o do Brasil para não perder o sertanejo.
Quantas pessoas trabalharam no clipe da versão inglesa da música?
Tínhamos quatro câmeras, oito pessoas na equipe e repetimos a música quatro vezes. No total, tinha umas 50 pessoas trabalhando. [Dos figurantes] Ninguém foi contratado. Foi muita gente, muitas mulheres bonitas.
Qual foi o investimento?
Um clipe desses custaria entre R$ 40 mil e R$ 50 mil, mas Michel teve a ajuda do pessoal da Woods, que levou os barcos e o pessoal. Então foi mais barato. Custou muito menos do que R$ 40 mil.
Como é o Michel Teló profissional?
Ele trabalhou com muitos artistas, entende da coisa. Ele é músico e toca muita sanfona. Interfere, acompanha a escolha do repertório, a produção, o estúdio de áudio e o vídeo também. Para se ter uma ideia, no DVD Michel na Balada, ele veio para cá [Maringá] para fazer o pente fino. É impressionante também a simplicidade dele. Michel é para cima. Em qualquer problema, ele é o cara mais positivo. Com o Michel, não é difícil ser amigo. É gostoso conviver com ele.
Como é o processo de produção dos vídeos?
Eu pesquiso muito no Youtube. Antes de fazer um trabalho, dentro do escritório, busco referências. A forma é tão importante quanto o conteúdo. Não pode ser chocante ao assistir. Busco elementos de identificação. Procuro sempre olhar o material com o olho de quem vai assistir e não com o olho de quem vai produzir. E quem olhar meu portfólio vai ver que os clipes não são iguais. Para cada caso, uma coisa diferente. Penso iluminação e enquadramento. Isso é direção de fotografia. No caso, do Oh, If I Catch You, vi o que era aceito lá [EUA]. Vi muita coisa do David Guetta. Sou fã dos vídeos do cara. Na hora que Michel chegou no deck [da gravação do Oh If I Catch You], ele estava de chinelo e perguntou: “Tio, como é que eu vou?”. Eu falei: “descalço”. Eu tinha observado e visto que ninguém naquele lugar [praia] estava calçado. Tem alguns detalhes que são nossa obrigação. Agora já tenho afinidade com o Michel. Trabalho há algum tempo com ele. Sei o estilo de mulher que pode aparecer nos vídeos dele, por exemplo. Quando fui editar [o clipe da versão internacional de Ai Se Eu Te Pego], minha esposa estava assistindo as imagens brutas comigo. Aí tinha uma cena e falei: “essa mulher não dá. Está feia”. E minha esposa perguntou: “como feia?”. Eu respondi: “para o Michel está”. O Michel é detalhista. Assiste e minuta. Ele sabe o jeito que quer.
No último domingo, após apresentar o clipe de Oh, If I Catch You no programa televisivo Fantástico, o apresentador Zeca Camargo deu risadas. Como você interpretou essa reação?
Conversamos sobre isso [Jacques e Michel], mas não tem como saber. Pode ser um deboche ou ele pode ter achado impressionante. Por causa dessa música, teve o caso do Bruno Medina, do Los Hermanos, que fez uma crítica. Tem os que defenderam, como o Danilo Gentili. O Zeca Camargo pode ter dado risada do inglês do Michel, que não é perfeito. O Michel sabe disso. Mas ele [Zeca] faz parte da edição do Fantástico e ele colocou o Michel para abrir e encerrar o programa. Não sei o que ele pensou. Não importa.
Quais são seus próximos projetos?
Agora vamos participar da turnê internacional dele [Teló]. Dias 4 e 5 de fevereiro, vamos para o Paraguai e Argentina. Depois, de 22 de fevereiro a 12 de março, vamos para a Europa. Vamos fazer um DVD, documentando a ida do Michel a sete países europeis. O brasileiro não sabe como é uma turnê internacional. Queremos fazer um diário de bordo.
Você acredita que parte do sucesso tem relação com os vídeos que você fez?
Tem um vídeo holandês com uma versão de Ai Se Eu Te Pego, no qual a textura e o estilo da imagem, o enquadramento e a forma como filmam são parecidos com o [nosso] vídeo. O Michel já falou: “Tio, você duvida que o vídeo tem relação [com o sucesso]?”. O Cristiano Ronaldo dançou porque o vídeo foi visto.
Qual a estrutura programada para a Europa?
Eu e mais um vamos para o vídeo. Levaremos quatro câmeras.
Como você concilia esses trabalhos com o Michel e as outras demandas da Jacques?
O trabalho musical dá mais repercussão. Esse ano tem anúncios políticos. Não sei como vou conciliar. Meu nome começou a aparecer e muitos artistas começaram a me procurar. Além da turnê na Europa, o Michel está com outro projeto de gravar mais um DVD em português. Um DVD com novas características. Com músicas de trabalho totalmente diferentes. Ainda é segredo. Mas vai ser tudo inédito. É ideia do Teófilo. Esse DVD está programado para fazer no meio do ano, depois da turnê internacional. Lançamento só no final do ano.
Com quais artistas já trabalhou?
Jorge e Mateus, Guilherme e Santiago, Gusttavo Lima e Luan Santana são alguns dos artistas.
Como é sua relação pessoal com os artistas?
Sou um cara que detesta tietagem. Trabalho com os caras e quase não tenho fotos [com eles]. Quando saiu o DVD [Michel na Balada], liguei para o Michel e disse: “você precisa autografar meu DVD”. Quando fui para São Paulo, ele falou: “o meu DVD é que vai ser autografado por você”. Quando você trabalha com artista, ele deixa de ser artista e vira uma pessoa normal. Agradeço a Deus por trabalhar com pessoas de quem sou fã, mas é preciso controlar isso. Às vezes, tenho de bater de frente com o artista. Tenho de discordar. Se for muito tiete, o artista não vai te ver como profissional.
Você gosta de sertanejo?
Até 2006, não gostava. Era contra. Gostava mais de pop e rock. No meu primeiro DVD sertanejo, que fiz para o Hugo Pena e Gabriel, tive de pegar música e ficar ouvindo. Faço pesquisa para saber como vou trabalhar. Hoje gosto de sertanejo. Não ia conseguir trabalhar sem gostar. Convivo com pessoas que ouvem. Acho engraçado que meu filho de 7 anos adora as músicas.
Seu filho quer seguir sua carreira?
Ele gosta de tecnologia. Tem uma máquina de fotografia. Tira e trata foto. Mas eu não queria que ele seguisse essa carreira. Queria que ele fosse uma pessoa normal [risos]. Ele sonha em ser médico veterinário. Só tenho ele de filho. Não deu tempo de fazer outro.
Fonte: Gazeta Maringá
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